segunda-feira, 11 de maio de 2009

exercício.

no caminho, pela cidade, eu só conseguia ver tristeza e miséria.
em cada rua suja do centro, em cada praça deserta. dentro dos olhos perdidos de cada garoto que me filava um cigarro, tomando-me o isqueiro com sorriso amigável e ameaçador ao mesmo tempo.
me sentia pequeno, não tanto quanto deveria pelas mazelas daquela gente inóspita que ali existe, bem como por toda a metrópole.
doía com intensidade maior a saudade de um momento, ainda tão fresco na memória, - e nos sentidos! - que para mim poderia durar a eternidade inteira, num loop grandioso.
ainda ardia na lembrança a imagem, em primeira pessoa, dos teus braços enroscados em mim, segurando a manga direita da minha camisa; sua cabeça recostada levemente no meu ombro esquerdo; seus cabelos (ah... tão lindos os seus cabelos!) brincando sutis de enroscar na minha barba rala, me fazendo sentir o cheiro do cigarro que fumei a noite toda, antes dali. os beijos, e todas as reações a eles. tua mão me apertando o braço quando mordi seu lábio inferior. todo querer, toda forma dele. as palavras engraçadas que vinham, toda vez que chegava um trem. tudo isso podia ficar congelado no tempo (e junto com ele).
por essas razões todas eu olho a cidade, fascinado, no meu delicioso exercício de recordar...


2 comentários:

Anônimo disse...

me lembrei de tanta coisa agora. e deu tanta saudade!

Marta Pinheiro disse...

a primeira parte me lembrou o meu natal do ano passado.
a segunda parte achei muito sensual!